Aparigraha, a arte de evitar distrações

Pari significa “de todos os lados” e graha significa “pegar”.  O termo parigraha tem a conotação de pegar, levar, reivindicar, cobiçar tudo o que vemos de todos os lados. Patanjali, sabiamente, instrui os yogues sobre o perigo de acumular posses. Nossa orientação de vida nos leva a pensar no futuro, poupar, pensar numa aposentadoria tranquila, ter reservas e muitas vezes acumular riqueza. Essa atitude obviamente nos direciona a dedicação descomunal ao trabalho e deixamos de lado os nossos outros propósitos de vida.

Todos nós temos aspirações além de obter reservas, e isso faz parte do curso natural da vida. Patanjali, no seu tratado de yoga, fala sobre as metas do ser humano no capítulo intitulado Kaivalya, que significa emancipação, libertação que é o fruto de toda a prática de yoga. Ele dedica um capítulo inteiro à discussão sobre a mente do buscador e o que é necessário para alcançar a tão sonhada emancipação do sofrimento.

Mas para alcançar kaivalya o yogue necessita passar pelo processo de investigação da sua existência e perceber sua verdadeira natureza chamada de Purusha, que é diferente do intelecto. Ao atingir a liberação, o conhecimento do yogue se torna ilimitado. No último aforismo do seu tratado, Patanjali  conclui dizendo que só alcança esse estado o praticante que cumpriu os quatro Purushastras, ou seja, as quatro metas da vida inerentes ao indivíduo que abarcam todas as aspirações humanas(artha, kama, dharma e moksha). Dentre elas, está artha que, nesse contexto, significa posses, prosperidade econômica ou ainda obter meios próprios de vida para se sustentar.  Ele não nega a prosperidade como acontecem com os monges tradicionais do budismo e os franciscanos que fazem votos de pobreza, por exemplo. O que é muito comum para aqueles que se sentem inclinados a essa prática e desejam se dedicar integralmente ao objetivo que se propõem.

Quando Patanjali fala de aparigraha, ele fala sobre prudência e prevenção. Ele sugere limitar as posses ao básico para que o yogue não perca o seu tempo administrando bens que possam gerar distração e distanciá-lo ainda mais do caminho último do yoga que é a emancipação. Para tanto, é importante dissolver o desejo desenfreado de possuir tudo a sua volta. Aparigraha então é a prática da não possessividade: não querer possuir tudo a ponto de se esquecer dos outros propósitos da vida. Os objetivos da vida humana devem ser buscados concomitantemente. Não devemos negar o prazer (kama), a prosperidade econômica (artha), o aprendizado de viver no mundo sem se tornar escravo dele (moksha) e muito menos o nosso dever e conduta que tornam possível a vida no universo (dharma). Esse é o verdadeiro equilíbrio.

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