Brahamacharya, a energia criativa

Brahmacharya é uma palavra composta de duas outras em sânscrito: brahma, que literalmente significa infinito, grande, demiurgo e acharya, que significa exemplo. Brahma também é o nome do deus considerado o criador do universo, pertencente à trindade hindu. Existem vários mitos no hinduísmo sobre Brahma e a criação do universo, mas o que nos cabe aqui é compreender sobre brahmacharya. Para tanto, faz-se necessário contemplar um pouco mais sobre Brahma, que tem as características de não ter fim, aquele que se expande além do tempo e do espaço, além de toda compreensão, cuja principal atribuição no mito hindu é a de criar. Ora, essa qualidade é a mais pura representação da força ativa. É essa força que faz gerar, desabrochar, já que Brahma está em estado latente no infinito, mas com todo o potencial para se despertar.

Outro ponto de vista seria o de um deus Brahma como um posto, como de um presidente ou outro cargo qualquer. Essa colocação se dá por um período de 100 anos (diferente da nossa compreensão de tempo da vida humana*).  A cada dia de Brahma, o universo fecha o seu ciclo. Ou seja, durante esses 100 anos de “poder”, quando apenas um dia de Brahma chega ao fim, acaba o universo e, no dia seguinte ao acordar, Brahma o “cria” novamente. Essa visão está presente em um dos mais antigos Puranas hindus, o Bhagavata Purana, que diz num dos seus versos: “Permanecendo fixo no cumprimento de seus deveres pessoais ao longo de cem vidas, o indivíduo obtém o posto de Brahma”.

Esses olhares sobre Brahma não torna o termo brahmacharya tão simples como o que nós vemos nos textos atuais geralmente traduzidos de maneira limitada como celibato. O celibato pode ser considerado necessário durante períodos em que o estudante recebe ensinamentos específicos do seu mestre, como por exemplo, um período de retiro, ou ainda uma opção pessoal de acordo com a tendência do aspirante à moksa (iluminação), como acontece em vários monastérios de várias religiões em si, envolvendo padres, monges e etc. Brahma, sendo o demiurgo,o  infinito, o grande, o criador ou uma ‘posição’ tão poderosa, possibilita a contemplação de todos esses aspectos.

É necessário observar com atenção a energia inerente ao Brahma quando se fala em brahmacharya. Lembre-se que acharya é exemplo ou aquele que ensina pelo exemplo. Sendo assim, bramacharya pode ser um termo bem mais amplo como “ser um exemplo de Brahma”. E o que é ser um exemplo de Brahma? É ouvir e seguir a força latente que todos nós temos. Essa força que nos faz questionar a existência de tudo e principalmente de nós mesmos. Essa inquietação do ser humano ao longo de toda a existência. E nesse sentido, brahmacharya é não desperdiçar a energia criativa com atitudes que não nos preencham plenamente. É continência quando o momento se faz necessário para conhecermos os caminhos que a mente nos leva. É purificação sim, do corpo e da mente.

*Um dia de Brahma corresponde a 4,32 bilhões de anos da vida humana

 Enciclopédia de Yoga Do Pensamento

Por Georg Feuerstein

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